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sábado, 29 de dezembro de 2012

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

sábado, 1 de dezembro de 2012

O 1º de Dezembro e a Casa de Bragança



Quando há 372 anos o 8º duque de Bragança deixou o paço ducal onde vivia com a sua mulher, D. Luisa, e os seus três pequenos filhos, D. Teodósio, D. Joana e D. Catarina não sabia se algum dia poderia voltar a estar com a sua família na terra que o vira nascer. Ia desempenhar uma missão de altíssimo risco, cuja baixa probabilidade de êxito era inversamente proporcional à enorme sede de revolta que a motivava. Foi um acto heróico do mais directo descendente d'el-rei D. João I e de D. Nuno Álvares Pereira, que 255 anos antes tinham tido a mesma coragem para impedir que Portugal caísse em mãos de estrangeiros.
Já rei, teve o Restaurador a preocupação de assegurar que o paço de Vila Viçosa e todo o património da sua nobre família não se confundissem nunca com os bens da Coroa que os Portugueses lhe confiaram. Determinou então que aqueles bens passassem a constituir a Casa do Príncipe Real, D. Teodósio e, daí em diante, de todos os primogénitos dos reis seus sucessores.

Esta separação sábia resistiu a 28 anos de guerra da restauração, a Pombal, às invasões francesas, às lutas liberais, aos tarados da 1ª república. A tudo, excepto à insídia de Salazar, que em 1933 decretou o confisco ignóbil dos bens da Casa de Bragança e instituiu a fundação com o mesmo nome, hoje discretamente presidida pelo mediático Prof. Marcelo Rebelo de Sousa.

Com ou sem feriado, festejar o 1º de Dezembro deve passar por exigir a restituição dos bens da Casa de Bragança aos legítimos representantes desta família, que em 1640 respondeu afirmativamente e com muita coragem ao apelo colectivo para encabeçar a enorme aventura que foi libertar Portugal.

in Blog 31 da Armada

sábado, 13 de outubro de 2012

Os Cataventos




De construção muito simples, o catavento é composto por uma lâmina que gira em torno de um eixo pela acção do vento. Vem desde os tempos dos gregos e além de indicador da direcção do vento serve ao mesmo tempo de ornamento.
Durante a Idade Média começa a ter grande difusão e aparece usualmente como remate das torres das igrejas. Começou por ser um sinal de nobreza e só as casas nobres, eclesiásticas e militares tinham o direito de o possuir.
Foi publicado um trabalho na Revista Portugália, tomo II, fasc. 3º, no Porto, em 16 de Julho de 1907) sobre os cataventos, que ora aproveitamos.
A meteorologia popular, presume-se pelo vento que soprar à meia noite no dia da Senhora das Candeias (2 de Fevereiro), o vento dominante durante o resto do ano. Avalia-se pelo vento do Dia de São Miguel (29 de Setembro), o estado do Inverno que se aproxima, assim como se infere da direcção observada à uma hora da tarde do Dia da Senhora da Ascensão qual o vento estival de predomínio.
A «maré pica de cima» ou «a maré pica de baixo» são as fórmulas com que ordinariamente se distinguem os ventos norte e sul que anunciam bom ou mau vento.

Os cataventos também são conhecidos por grimpas. Frequentemente é uma bandeirola movendo-se em torno de um eixo vertical que indica a direcção do vento e certos estados atmosféricos. Rara é a torre que não remata em veleta. De dia e sem névoa, a freguesia tem na sede o instrumento que logo o elucida, mais ou menos grosseiramente, sobre o tempo provável.

Em termos ornamentais, e sobretudo a partir dos séculos XV e XVI, os motivos são os mais variados: anjos, setas, temas mitológicos, barcos, insígnias eclesiásticas, animais, etc. Umas vezes a decoração exclui a ventoinha e apenas consiste em combinações de folhas e flores, aves, fauna, figuras humanas e cúpidos, de loiça, ferro, chumbo ou zinco.
Normalmente a flecha é simples, associada a folhagens, à cruz e à esfera armilar. Por vezes, combina-se a bandeirola com a flecha.
Nesse trabalho, são ainda indicados os seguintes motivos ou figuras:

• Cravos e coroa de espinhos;
• Aves geminadas;
• Peixes;
• Leões;
• Dragos da fauna mítica;
• Iconografia dos anjos e religião (mitra, báculo, cálice, sol, arco e seta, espada;
• Temas não convencionais (um homem sobre um sol e que consulta os astros,
• Moinhos de vento, com panos e varais;
• Bonecos de madeira que se colocam nas hortas, nos jardins e nos campos.

São também conhecidos os corrupios e gregórios que fazem as delícias das crianças e que se movimentam com a força do vento.
Os temas náuticos, como barcos, peixes, sereias e outros, são muito vulgares nas cidades ou vilas portuárias.
Um dos motivos usuais era o arcanjo S. Miguel ao qual se atribuía a protecção ao raio. No entanto o galo aparece com mais frequência e ainda nos dias de hoje. Recordava ao clero a vigilância e lembrava ainda o arrependimento de S. Pedro. Além disso desde sempre que o galo era considerado profeta do tempo e o seu canto afugentaria os maus espíritos e todas as calamidades.
Mais recentemente, além das torres das igrejas, podemos ver cataventos em moinhos, faróis e outros tipos de construções. Além da lâmina alguns têm também indicação dos quatro pontos cardeais.
Nos navios o catavento não terá este aparato todo e o aspecto decorativo foi posto um pouco de parte. O objectivo é saber a direcção do vento, nestes casos a direcção aparente, de modo a manobrar melhor as velas. Diversos tipos são usados ainda hoje. Desde uma bandeira de chapa ou outro material a tope do mastro grande até a fitas de tecidos leves nos brandais ou bandeiras nas bordas são o auxiliar suficiente para detectar as mudanças de vento.  Bandeira catavento e girouette com indicação do limite de orça.

A electrónica também já invadiu a tradição e a qualquer momento é possível ler a direcção do vento, aparente ou mesmo real, com uma precisão de grau. Mesmo assim o antigo encanto de olhar a tope ou para as flâmulas içadas não se perdeu e ainda podemos ver os olhares a lerem o vento pelas fitas dos brandais ou pelo drapejar das bandeiras.

Na náutica existem algumas expressões associadas a este instrumento, e catavento pode também querer dizer o lugar onde se coloca o oficial que comanda a manobra. Se a ausência de vento for completa, ou quase, também se diz que o catavento está morto! Mas pelo menos este ressuscita com qualquer brisa.
A Energia Eólica é a energia que provém do vento. O termo eólico vem do latim Aeolicus, pertencente ou relativo a Éolo, deus dos ventos na mitologia grega e, portanto, pertencente ou relativo ao vento.
O Deus do vento, filho de Netuno e que habitava a ilha de Eólia, numa caverna onde guardava os ventos. Éolo costumava perseguir as nuvens, levando-as para sua caverna, na intenção de que esse seu ato resultaria em bom tempo.
Aeolicus, pertencente ou relativo a Éolo, deus dos ventos na mitologia grega e, portanto, pertencente ou relativo ao vento.
O Deus do vento, filho de Netuno e que habitava a ilha de Eólia, numa caverna onde guardava os ventos. Éolo costumava perseguir as nuvens, levando-as para sua caverna, na intenção de que esse seu ato resultaria em bom tempo.

O Adagiário ligado ao vento:

• De Espanha nem bom vento nem bom casamento.
• Quem semeia ventos colhe tempestades.
• Palavras, leva-as o vento.
• Enquanto há vento molha-se a vela.
• Água e vento são meio sustento.
• Vento de Ramos, vento do ano.
• Com vento se limpa o trigo e os vícios com castigo.
• A ignorância e o vento são do maior atrevimento.
• Miragem que espante, vento de Levante.
• Mulher, vento e ventura, são de pouca dura.
• O que o vento traz, o vento leva.
• Vai-se o vento com o tempo.
• Vento baixo e beiras a correr é sinal de chover.
• Vento suão, água na mão.
• Se tens vento e depois água, deixa andar que não faz mágoa.
• De caldo requentado e de vento de buraco, guarda-te deles como do Diabo.
• Ande o vento por onde andar nos Passos está em Ovar.
• Quando há vento é que se iça a vela.
• Vento contra a corrente, levanta mar imediatamente.
• Vaga ao revés encrespada vai dar-te o vento saltada.
• Quem foi ao vento, perdeu o assento.
• Com vento de nordeste até o marinheiro enjoa.
• Lugar ventoso, lugar sem repouso.
• O vento ajusta a palha e depois espalha.

domingo, 5 de agosto de 2012

" Proxenetismo cultural assistido _ a morte lenta da cultura "




" Desta minha bancada ... "


.Muito saturada de um alter.ego.centrismo reinante ( o termo é tão propositado e semanticamente conflituante quanto a prática que exprime) , ora vejamos ... vivemos tempos em que se tem como normal pedir , melhor será dizer coagir, artistas ...a trabalhar de graça ( pro bono ) para o bom nome de políticos e tecnocratas que assim se vão mantendo à tona do sistema. Eles / elas , os tecnocratas _ animados animadores , de tudo e de nada, cumprem e até superam os "objectivos" , negociados inter-pares, porque "heroicamente" conseguiram persuadir gente que vive do seu trabalho , da sua arte, a trabalhar à borla. Com esta arte negocial conseguem classificações de excelente, atingem o cume do SIADAP e tornam-se "aquela máquina" ( Lembram-se da Regisconta ? ). Na perspectiva de quem os classifica são "funcionários que realmente funcionam". Não ganham mais por isso porque não há dinheiro, mas seguram o lugar, o que já não é mau, mesmo que essa reputada "excelência" aumente a exclusão e a fragilidade daqueles que, estando fora do sistema, só lhes resta aceder a tão bárbaras condições. Quanto aos politicos, na sua maioria, mesmo os mais letrados, vêm nestes "negociadores encartados " o supra-sumo do expediente e dos bons oficios à causa, até porque, com tais resultados, lhes alimentam a ilusão de que têm uma consistente base politica de apoio. Alimentam-se assim uns e outros como massa para fermento, crescem e multiplicam-se. Está instituído o proxenetismo culturalmente assistido. Os artistas ( e cabem aqui , actores, bailarinos, cantores mais ou menos líricos, cenógrafos, pintores , escultores, cineastas, escritores) um rol sem fim, que fazem tudo por nada à espera de ... alguma coisa. À espera de Godot, continuam à espera ... . É absurdo que estejamos cada vez mais a dar para este peditório, a desinvestir no ensino das artes, na exigência e na valorização de artistas e artifices, na diferenciação dos criadores. Como podemos ter cidades criativas, "economias criativas " (agora tão na moda), se tratamos mal os criadores, se metemos tudo num saco de gatos , as tão "queridas", colectivas de artistas , um arrazoado "artistico-metafórico" populismo que serve TUDO e não serve a ninguém e que apenas alimenta o parasitismo dos negociadores do sistema ? Falta uma visão holística, um modelo integrado , claro e persistente, assente na participação, exigente e diferenciador do mérito, assente na melhoria contínua numa forte participação. Temos que saber porquê, para quê e com quem fazemos as coisas. Não dá continuarmos a ter agendas culturais que mais parecem listas telefónicas, números de náufragos que sobrevivem à tona do sistema. Na crise intensa que vivemos isto é puro desperdício. Lixo cultural ( Spam ) . Ruído _ feira de vaidades. A cultura, enquanto serviço público, tem que ser algo profundamente comprometido com a felicidade e bem-estar das pessoas. Algo que visa elevação, que puxa para cima. Algo persistente e socialmente responsável, que nos torna mais fortes. Algo permanente e seguro que cria lastro , que é plural e cosmopolita. Que ganha escala porque trabalha em escala, que conhece o território e aposta FORTE na identidade ( na transmutação das identidades e nas sua dinâmicas ) . Ao invés disto, vivemos na sociedade dos "eventos", dos efeitos, do supérfluo, entre o nada ou quase nada de alguns e a abastança de outros, mas sobretudo na generalizada falta de responsabilidade política. Vivemos entre o luxo e o lixo. Vivemos na cultura ligth do "é tão giro" , do jeitosinho que também pinta, da jeitosinha que faz uma coisinhas para entreter os dias mas que é boa pessoa ... e outras considerações subjectivas, num total desrespeito pelos profissionais, pelos públicos e utilizadores, pelos criadores (esses seres estranhos, por vezes com muito mau feitio, que mudam a face da terra e a paisagem das cidades, mas que têm o grande defeito de amar demais, de querer muito e a ingenuidade de falar livremente). A banalização da dita cultura não serve a ninguém, é um artificio populista "local" que deslocaliza a cada dia que passa quem tem a pretensão de viver dos oficios da cultura e com esse provento pagar a água, luz e renda de casa. Chega de querer federar artistas e criadores culturais em projectos populistas, de duvidosa qualidade, que só servem quem deles se aproveita para alindar a sua folha de serviço. Não é com as colectivas de artistas que lá vamos ... há lugar para TODOS , mas cada um no seu lugar. Por favor ... !


Isto tudo somado ao síndrome do "artista local" , uma veneradíssima categoria de artista que prolifera como cogumelos e que tem sempre uns espacinhos para aumentar a criação . Lembro-me das sábias palavras do grande poeta Manoel de Barros , que trazia para a poesia toda a bicharada, fantasias e lentidões do denso pantanal ( lesmas, formigas ... ) , a epifania das águas, o brejo que o viu nascer mas que nunca quis ser chamado de "poeta pantaneiro" e ele lá sabia porquê ...


Isabel Victor










sexta-feira, 22 de junho de 2012

Seminário - "ATRAVESSAR PONTES ENTRE ESCOLAS E MUSEUS"

Caros amigos e colegas,
Aqui vai mais um "call for papers" fresquinho para um Seminário que vai acontecer na nossa cidade com organização de alguns dos membros da nossa rede. Estejam atentos!
Um grande abraço
da alice
A Associação de Professores de Expressão e Comunicação Visual (APECV) e a Fundação de Serralves realizam nos dias 12, 13 e 14 de Outubro de 2012, em Serralves (Porto - Portugal) o seminário “Atravessar pontes entre escolas e museus”.
Este encontro surge no seguimento do seminário realizado em Fevereiro no Museu Colecção Berardo e Casa das Histórias Paula Rego -“Construir Pontes entre Escolas e Museus”, integrado no projecto ITEMS – Innovative Teaching for European Museum Strategies. O objectivo principal destes seminários é promover a discussão sobre temas pedagógicos na relação entre professores e educadores de museus, estreitando as relações entre escolas e museus e apresentando alternativas à forma tradicional como os museus e as suas actividades se apresentam ao público.
Os interessados em apresentar uma comunicação neste seminário devem enviar proposta até ao dia 31 de Julho para o emailpontes@apecv.pt com as seguintes informações:
  • Título;
  • Nome autor(es);
  • Afiliação;
  • E-mail e telemóvel;
  • Resumo até 750 palavras;
  • 3 a 5 palavras chave.
Caso a proposta de comunicação seja aprovada os autores deverão enviar o texto até 1 de Setembro.
 
Mais informações e inscrições em http://pontes.apecv.pt/
 
Cumprimentos
 
Patrícia Castro
APECV
Rua do Heroismo, 354 - 1º Andar - Sala 2
4300-256 Porto
            223326617

quinta-feira, 5 de abril de 2012

História dos Ovos de Páscoa


Inicialmente os ovos de páscoa eram realmente ovos de galinha e eles eram cozidos e ou enfeitados com desenhos e pinturas que deixavam cheios os olhos da criançada, logo esses ovos acabaram ganhando doces e guloseimas em seu interior.
Algumas pessoas perceberam que poderiam usar o modelo do ovo para fabricar alguns doces com esse formato e assim surgiu o ovo de páscoa de chocolate.
Hoje os ovos de chocolate são um verdadeiro sucesso, é incrível como as vendas tem crescido ano após ano, os ovos de chocolate não são destinados somente as crianças, eles são uma ótima opção para namoradas, namorados, pais, amigos e assim por diante.
Os tipos de ovos também são bem diferentes uns dos outros, você pode contar com ovos de chocolate com recheio, ao leite, chocolate preto, branco ou misturado, eles também podem ter adicionado a sua massa alguns elementos especiais como pimenta, coco, amêndoas, amendoins e muitos outros condimentos que vão deixar os ovos ainda mais gostosos.
Mas é claro que a grande diversão dos ovos de páscoa e da ocasião, fica por conta das crianças, elas simplesmente adoram essa época e é praticamente impossível transitar com os pequenos pelos supermercados repletos de ovos de chocolate de encher os olhos.
Uma Santa Páscoa!

sábado, 11 de fevereiro de 2012

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Uma decisão corajosa


"Referi sempre ao secretário de Estado da
Cultura que a minha posição era esta. Aliás, a minha posição é conhecida por todos os membros do Governo."


A decisão de Vasco Graça Moura, orecém-empossado presidente do Centro Cultural de Belém, de não aplicar oaberrante Acordo Ortográfico (AO) que quer o actual quer o anterior Governo daRepública se propuseram levar à prática, é uma decisão justa e corajosa porparte de quem sempre se mostrou contra tal aborto linguístico, verdadeira
machadada na nossa língua e na identidade nacional. Vasco Graça Moura mostra,uma vez mais, que não se pode ser contemporizador com o poder político quandoesse poder é ignorante, inculto e precipitado, mesmo que seja da nossa cor política. O problema criado é demasiado gravoso para passar despercebido e dasduas uma: ou o Secretário de Estado da Cultura que o nomeou lhe dá uma ordemexpressa para aplicar o tal AO, e se ele não o fizer demite-o, ou o Governo teráde conviver com o facto de um dos seus nomeados, um dos mais importantesintelectuais portugueses, senhor de um domínio e conhecimento da língua comopoucos, utilizar um dos lugares mais visíveis do panorama cultural nacional comotribuna contra uma das suas decisões políticas maiscontroversas. Sublinho aquio facto da decisão de Vasco Graça Moura ter sido sufragada por unanimidade pelosrestantes membros da administração do CCB. Estou certo de que a maioria dos portugueses, da direita à esquerda e até os apolíticos, estarão de acordo com ele. Pela parte que me toca, não podia estar mais de acordo e deixar de dar-lheos parabéns.
Publicada por

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012


O azulejo
constitui uma das expressões mais populares e mais requintadas da arte que se
faz em Portugal, sendo nele muitas vezes expressa a história e cultura de um
povo ou das gentes de uma cidade.
Embora a sua
origem não seja portuguesa, mas árabe (Al zulaic), o azulejo foi uma das
expressões artísticas que teve no nosso país, e particularmente em Aveiro, um
desenvolvimento muito sui generis.
Os primeiros
trabalhos em azulejos existentes nesta cidade, remontam ao século XV,
coincidindo com o arrancar da actividade cerâmica como actividade económica de
relevo para a região. São hoje escassos os azulejos dessa época, devido aos
inúmeros restauros realizados. No entanto, ainda se podem encontrar no convento
de Santa Joana exemplares de azulejos deste século, ligados certamente à
fundação deste.
Os painéis de
azulejos etnográficos, históricos ou de figuras populares foram embelezando e
dando vida a paredes nuas, com mensagens de saudade e de amor, que muito
contribuíram para uma imagem de Aveiro com mais policromia e luz. Existem na
cidade, dois pontos fulcrais deste tipo de azulejaria: a casa de Santa Zita e a
Estação dos Caminhos de Ferro.
Diz-se que em
cinco séculos não houve país que produzisse azulejos com tanta qualidade e
quantidade como Portugal.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Azulejos séc. XVIII


Tendo por base os azulejos de Delft (Holanda), desenvolveu-se em Portugal uma forma muito própria de azulejo durante o séc. XVIII. A figura avulsa é um azulejo que apresenta uma decoração principal com motivos diversificado, sendo os mais comuns as flores, animais, figuras humanas, entre outros.No nosso país, foram muito utilizados, entre outros locais, em lances de escada, cozinhas e sacristias de igrejas e conventos.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

DIZ-ME ONDE MORAS...

"Um dos grandes problemas da sociedade portuguesa é o trauma da morada.Por exemplo, há uns anos, um grande amigo meu, que morava em Sete Rios, comprou um andar em Carnaxide. Fica pertíssimo de Lisboa, é agradável, tem árvores e cafés. Só tinha um problema. Era em Carnaxide. Nunca mais ninguém o viu. Para quem vive em Lisboa, tinha emigrado para a Mauritânia! Acontece o mesmo com todos os sítios acabados em -ide, como Carnide e Moscavide. Rimam com Tide e com Pide e as pessoas não lhes ligam pevide. Um palácio com sessenta quartos em Carnide é sempre mais traumático do que umas águas-furtadas em Cascais. É a injustiça do endereço. Está-se numa festa e as pessoas perguntam, por boa educação ou por curiosidade, onde é que vivemos. O tamanho e a arquitectura da casa não interessam. Mas morre imediatamente quem disser que mora em Massamá, Brandoa, Cumeada, Agualva-Cacém, Abuxarda, Alfornelos, Murtosa, Angeja, ou em qualquer outro sítio que soe à toponímia de Angola. Para não falar na Cova da Piedade, na Coina, no Fogueteiro e na Cruz de Pau. Ao ler os nomes de alguns sítios - Penedo, Magoito, Porrais, Venda das Raparigas, compreende-se porque é que Portugal não está preparado para entrar na Europa. De facto, com sítios chamados Finca Joelhos (concelho de Avis) e Deixa o Resto (Santiago do Cacém), como é que a Europa nos vai querer integrar? Compreende-se logo que o trauma de viver na Damaia ou na Reboleira não é nada comparado com certos nomes portugueses. Imagine-se o impacto de dizer "Eu sou da Margalha" (Gavião) no meio de um jantar. Veja-se a cena num chá dançante em que um rapaz pergunta delicadamente "E a menina de onde é?", e a menina diz: "Eu sou da Fonte da Rata" (Espinho). E suponhamos que, para aliviar, o senhor prossiga, perguntando "E onde mora, presentemente?", Só para ouvir dizer que a senhora habita na Herdade da Chouriça (Estremoz). É terrível. O que não será o choque psicológico da criança que acorda, logo depois do parto, para verificar que acaba de nascer na localidade de Vergão Fundeiro? Vergão Fundeiro, que fica no concelho de Proença-a-Nova, parece o nome de uma versão transmontana do Garganta Funda. Aliás, que se pode dizer de um país que conta não com uma Vergadela (em Braga), mas com duas, contando com a Vergadela de Santo Tirso ? Será ou não exagerado relatar a existência, no concelho de Arouca, de uma Vergadelas?É evidente, na nossa cultura, que existe o trauma da "terra". Ninguém é do Porto ou de Lisboa. Toda a gente é de outra terra qualquer. Geralmente, como veremos, a nossa terra tem um nome profundamente embaraçante, daqueles que fazem apetecer mentir. Qualquer bilhete de identidade fica comprometido pela indicação de naturalidade que reze Fonte do Bebe e Vai-te (Oliveira do Bairro). É absolutamente impossível explicar este acidente da natureza a amigos estrangeiros ("I am from the Fountain of Drink and Go Away..."). Apresente-se no aeroporto com o cartão de desembarque a denunciá-lo como sendo originário de Filha Boa. Verá que não é bem atendido. (...) Não há limites. Há até um lugar chamado Cabrão, no concelho de Ponte de Lima !!! Urge proceder à renomeação de todos estes apeadeiros. Há que dar-lhes nomes civilizados e europeus, ou então parecidos com os nomes dos restaurantes giraços, tipo : Não Sei, A Mousse é Caseira, Vai Mais um Rissol. (...) Também deve ser difícil arranjar outro país onde se possa fazer um percurso que vá da Fome Aguda à Carne Assada (Sintra) passando pelo Corte Pão e Água (Mértola), sem passar por Poriço (Vila Verde), e acabando a comprar rebuçados em Bombom do Bogadouro (Amarante), depois de ter parado para fazer um chichi em Alçaperna (Lousã).
(Miguel Esteves Cardoso)

Tecendo Natais...

A década de oitenta percorria a passadeira do tempo. Foi ela que me trouxe estes natais que hoje recordo. Era ainda solteiro.
Durante o dia, aos poucos, como pequenas revoadas de andorinhas, os meus irmãos iam chegando — de Montalegre, do Pinhão, do Porto, de Paris e, por vezes, de Melbourne. E a casa acendia-se, ganhava vida e calor como um ventre. Parecia ter alma! A cada chegada, a pirâmide das prendas, de braço dado com o pinheiro, ganhava altura e ateava a curiosidade dos mais novos. A família, do amanhecer ao colo da noite, ia-se desfragmentando, ficando inteira sob o mesmo teto, onde a retorta da união, borbulhando de afeto, decantava o sal da saudade, tornando-nos capazes voltar a desafiar o tempo. Os olhos da minha mãe tinham então outro brilho, e o seu rosto floria numa expressão de alegria quase pueril. Incansável, em constante vaivém pela casa, fazia-se omnipresente, dava-se a uma seara de três gerações.
Habitualmente, havia mais de vinte pratos sobre uma mesa ampla que enchia toda a sala de jantar. Durante a ceia, falávamos um pouco de tudo: contávamos histórias e anedotas, lembrávamos o passado, outros natais, os que já nos tinham deixado e os mais distantes, lá no outro lado do mundo, que ligavam sempre para também, assim, estarem connosco à mesa. O telefone saltitava de mão em mão, ouvindo os repetidos votos de um Santo Natal e feliz Ano Novo. E todos os diálogos, forçosamente curtos, terminavam com o mesmo cliché: “vou passar-te a Nor”; “vou passar-te a Carmo”; “vou passar-te a Fátima”… As crianças, ansiosas e excitadas, comiam rapidamente. E nem a sobremesa os retardava. Antes dos cafés chegarem à mesa, já elas estavam na sala de estar a ver televisão, com os olhos ora no ecrã ora no colorido dos presentes, deambulando, como ovelhinhas soltas em viçoso pasto, nos cumes da paciência.
Um dos filhos vestia-se de Pai Natal, e entregava as prendas, uma a uma. Era um ritual, acompanhado de aplausos, que demorava cerca de meia hora. Depois dos agradecimentos, enquanto os catraios mergulhavam nas suas novas fantasias, como se se afundassem, subitamente, num mundo paralelo, esfolheávamos páginas de nós, à volta da mesa e da braseira, pela noite dentro, até o sono ser de chumbo e o corpo não poder mais.
A manhã seguinte nascia sempre preguiçosa e a declinar as horas. Depois, acabava por precipitar o relógio e, a contragosto, lá servia as despedidas:
— Deus queira que de hoje a um ano!
— Cá estaremos, se Deus quiser!
— Então não há de querer?!
No forro daquelas pequenas frases feitas, saídas do peito como um disfarçado esconjuro, escondia-se o inconfessável receio de não nos voltarmos a juntar todos no Natal seguinte. Era como se o próprio tempo, nesse momento, nos viesse cobrar, em silêncio, as suas generosas concessões, e lembrar-nos de que tudo neste mundo tem um fim.
— Ide com cuidado, que as estradas estão cheias de gelo! — recomendava a minha mãe, com o coração nas mãos. — Telefonai ao chegar!
A casa, a cada despedida, ia esmorecendo a sua chama, ganhando os desmaiados tons da melancolia. A mesa permanecia cheia de tudo, mas geometricamente só, inerte como um palco sem atores. Os casados partiam para outros lares, que os esperavam para um “segundo Natal”. Eu e os meus dois irmãos mais novos, também solteiros, ficávamos com a minha mãe a enganar o vazio frio que restava e a desfiar saudade.
Só então ela se rendia ao quebranto. Depois do almoço, com o ramerrão da casa resolvido, deitava-se sobre a cama, e descansava placidamente. O seu corpo pequeno — franzino, encolhido sobre a colcha, mal coberto por uma delicada manta de lã — e sua expressão quase meninil, enquanto dormia, eram de uma rapariguinha que, em sonhos, desdobando o fio do tempo, estava ali entretida a tecer natais, passados e futuros...

Flávio Monte