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sexta-feira, 20 de junho de 2008

Museologia - Ecomuseu

REABILITAÇÃO DO PATRIMÓNIO


A palavra ecomuseu surgiu pela primeira vez em 1971, devida a Hugues de Varine, actualmente ilustre director do Instituto Franco-Português, em Lisboa, e que sucedeu como director do ICOM (International Council of Museums), da UNESCO, em Paris, a George Henri Rivière.
Foi George Henri Rivière quem idealizou os esquemas museológicos que Hugues de Varine designou de Ecomuseu. Conforme ele dizia há alguns anos, e é aliás parte fundamental do seu pensamento sobre a moderna Museologia, o museu de uma região ou de uma localidade deve fazer a síntese das relações Homem-Natureza ou homem-território, ensinando a cronologia e a simultaneidade dos fenómenos naturais e culturais, mostrando os elos que formam as cadeias dinâmicas do mundo, entre o passado e o presente, e olhando o futuro.
Esta concepção traduziu-se no campo da Conservação, entre outras resultantes, pela criação de parques naturais, nos quais o património cultural das populações rurais, fortemente entrosadas na Natureza, passou a ser tão importante como o património natural, ao contrário do conceito de parque nacional estritamente biológico.
Daí que no planeamento dos parques naturais, como aliás eles foram concebidos em Portugal em 1976, não possa esquecer-se a conservação dos valores culturais, já que eles se estabelecem em regiões rurais cujas populações são herdeiras desse passado de intrínsecas relações Homem-Natureza – portanto relações ecológicas no sentido profundo do termo, que exigem a criação de estruturas de conservação e animação ou dignificação desse património.
É assim que nasce o Ecomuseu, uma vez apreendida por George Henri Rivière a essência dessas relações: a interligação da Museologia, como promotora de estruturas de conservação do património, com a ecologia (ele inventou até o termo parqueologia porque visava especificamente os parques), que estabelece as relações das comunidades humanas com os outros seres vivos e com o meio. Criação e Gestão de Parques Arqueológicos – Decreto-Lei nº 131/2002, de 11 de Maio.
O Ecomuseu revela a história de uma região sem recorrer a grandes edifícios nem a grandes complexidades museográficas; revela a história da região desde a sua formação geológica – a geologia é a grande mãe de tudo quanto existe. Explica como tudo evoluiu, como se formou a vida, como apareceram os primeiros homens, como se desenvolveu a cultura local em ligação com os ecossistemas naturais que os homens iam transformando.
Como o próprio Rivière escreveu,

«o ecomuseu não tem uma definição acabada nem uma expressão fixa»; «ele é criado como um espelho onde a população se contempla para nele se reconhecer, onde ela procura a explicação do território a que está ligada, juntamente com as populações que a precederam na descontinuídade ou continuidade das gerações.

São componentes fundamentais do Ecomuseu o Museu do Tempo e o Museu do Espaço.
O Museu do Tempo cria as motivações para que o visitante vá apreciar e estudar valores da Natureza e da Cultura nos seus locais próprios – o Museu do Espaço: afinal, toda a região em causa, com os seus acidentes geomorfológicos, a fauna e a flora, as ruínas pré-históricas, os monumentos históricos, as oficinas, os lagares, os moinhos, etc. – tudo quanto é, no espaço, aquilo que os visitantes apreenderam no Museu do Tempo. (Fernando Santos Pessoa, p: 34,35 – Reflexões sobre Ecomuseologia – Edições Afrontamento).O Ecomuseu destina-se em primeiro lugar à população local, para que ela reconheça os valores do seu meio ambiente e da sua cultura e dessa forma se orgulhe das raízes que a ligam a um passado que em muitos casos foi de exploração, de pobreza ou de sofrimentos, noutros de grandiosidade, de poder criador e de génio artístico. Em todos eles essa população poderá encontrar estímulo para ultrapassar as deficiências e adquirir energias para o futuro. A população local participa activamente no Ecomuseu, quer através da cedência de peças para as exposições quer trabalhando nas diferentes estruturas que funcionam no âmbito dele: oficinas artesanais, restaurantes, apoios ao recreio, etc. É sobretudo importante para aquelas regiões em que o prestígio das coisas urbanas tende a apagar a importância das culturas próprias e tradicionais; com o Ecomuseu as populações reaprendem a amar o que é seu, a sua tradição os seus conhecimentos seculares, a sua maneira peculiar de estar no mundo.

Safira

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