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quarta-feira, 7 de abril de 2010

Em causa a transferência do Museu de Arqueologia



Enquanto o país cultural discute as viagens da deputada Inês de Medeiros, há coisas mais graves a acontecer. A decisão de transferir o Museu Nacional de Arqueologia das actuais instalações nos Jerónimos para a Cordoaria, que já vinha do anterior Governo mas foi reiterada pela actual Ministra da Cultura, está a provocar uma verdadeira fronda entre os arqueólogos portugueses, um grupo pequeno mas aguerrido (lembrem-se das gravuras de Foz Côa). O director do Museu, Luís Raposo, já ameaçou demitir-se, invocando estudos técnicos que apontam os enormes riscos da Cordoaria para o espólio à sua guarda em caso de inundação ou terramoto.

É a primeira revolta séria contra Gabriela Canavilhas. E a demissão de Raposo teria consequências políticas assinaláveis porque não se trata de Christoph Damman, o director artístico do São Carlos que a Ministra se prepara para mandar embora sem sobressalto público (excepto um artigo de Mário Vieira Carvalho, que o contratou quando era Secretário de Estado). O director do MNA tem obra feita, audiência nos media e uma pequena corte que tornariam a sua eventual demissão muito impopular.

Entretanto, o novo Museu dos Coches, obra anunciada com pompa e circunstância para fazer prova do investimento do Governo na cultura, tem sido fortemente criticado por vários especialistas. Leia-se, por exemplo, o artigo da insuspeita Raquel Henriques da Silva na revista L+Arte de Março, que não podia ser mais duro ("O que peço, mesmo com a primeira pedra lançada desta obra escandalosamente inútil, é que se pare para pensar, assumindo que a cultura não pode ser gerida pelas falsas razões do mais ultrapassado turismo massificado, estratégia de pão e circo que a cidadania responsável só pode abominar").

Se juntarmos a esta bomba-relógio a indefinição quanto ao futuro do Museu de Arte Popular, cujo acervo está ainda encaixotado no Museu de Etnologia do Restelo, temos um cenário muito complicado no eixo museológico de Belém. Aproxima-se a primeira guerra de Gabriela Canavilhas no Palácio da Ajuda.


Retirado do Blog Cachimbo de Magritte

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