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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Há 50, De Gaulle criou o Ministére des Affaires Culturels

Passam hoje 50 anos sobre o Conselho de Ministros em que De Gaulle criou o Ministére des Affaires Culturels, o primeiro ministério do mundo dedicado à "cultura". A sua existência, imitada mais tarde ou mais cedo por toda a Europa continental, tornou-se de tal modo um hábito da vida política contemporânea que nos esquecemos do tempo em que havia cultura sem Ministério. Havia e continua a haver - nos países anglo-saxónicos, esses reinos bárbaros onde a responsabilidade do Estado na matéria não exige assento no Governo. Mas já se sabe que a França tem outros pergaminhos.
De Gaulle não fez a coisa por menos. Conservador, foi o primeiro a elevar a cultura ao panteão ministerial, provando que a esquerda não tinha o "monopólio do coração" (na famosa imagem de Giscard d`Estaing, aqui fora de contexto). Mais do que isso, entregou o novo braço do executivo ao escritor André Malraux, então no auge da glória, que se juntara ao gaullismo depois de combater ao lado dos comunistas em Espanha. A oposição, evidentemente, rendeu-se à ideia, tanto mais que a política de Malraux ilustrava uma muita napoleónica "grandeur de la France" a que todos os compatriotas eram ainda sensíveis.
O ministério foi, desde sempre e fatalmente, um paradoxo. Criado à medida de um homem, nunca deixou de ter o peso político do inquilino da Rua Valois. Centralizado em Paris, as Maisons de Culture pretendiam levar "as obras-primas do génio humano" a todos cantos do hexágono. Em suborçamentação crónica, a desmesura de objectivos correspondia à flexibilidade do conceito de "cultura". Pecados originais de que jamais se redimiu.
De tal modo que Jean-Jacques Aillagon, titular da pasta entre 2002 e 2004, punha recentemente em causa no Le Monde (30/12/08) a razão de ser de um Ministério da Cultura: "Aucun ministère n`est autant obsédé par sa propre existence, au point de devenir une machine à communiquer. Chaque jour, le ministère annonce, déplore, remercie, félicite, se chagrine. Cette hypertrophie du discours a fait naître l`illusion qu`aucune action culturelle ne pouvait exister sans qu`il soit l`acteur, l`intermédiaire, le promoteur. Or la réalité est bien différente. En vingt ans, les collectivités locales sont devenues des acteurs centraux de la vie culturelle. Sans elles, que`en serait-il des enseignements artistiques, de la vie musicale, du foisonnement des festivals ou du renouveau des musées?"
É uma boa pergunta. E merece uma boa resposta.

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