“Pouco importa à palafita
que a cidade se deslustre.
Ela serve, a quem a habita,
de palacete palustre.
conjunto habitacional,
pois não se tem o direito
de julgá-la bem ou mal.
vir assim como ela é.
Vem tal como vem a brisa
ou como vem a maré.
filha de tempos antigos,
e fica no mangue presa,
parindo humanos abrigos.
que, civilizado ou não,
jamais impede que o tomem
por um ser da escuridão,
de sua alma escura e fraca,
que até nas eras modernas
põe a vida em lama e estaca,
como atávica doença
que estende por todo o mangue
a sua raiz imensa.
a si mesma e mais nada:
é sala, é quarto, é quintal
de quem mora sem morada.
mãe ou filha da maré,
não é feia nem bonita
alta ou baixa, apenas é."
José Chagas
In Livro Maré Memória
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